ARQUIVO HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE ITAPORANGA D'AJUDA - CURADORIA: PROFESSOR ROBSON MISTERSILVA
ARQUIVO HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE ITAPORANGA D'AJUDA - CURADORIA: PROFESSOR ROBSON MISTERSILVA
ESTAÇÃO IRAPIRANGA (1914)
José Rodrigues da Costa Dória (1859-1938): "(...)é mais fácil ir a Europa do que a Sergipe"
Localização da estação de Irapiranga como estação central de Itaporanga d'Ajuda (IBGE: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, 1960). Esta imagem está em tamanho maior na seção de Mapas Antigos
Mapa do projeto do trecho aprovado em 1904 para a ferrovia em Sergipe, denominada Timbó a Propriá. O ramal ferroviário de Laranjeiras a Simão Dias foi o único trecho não concretizado a partir de 1908.
Fonte: Ministério da Viação e Obras Públicas do Brasil, 1910. Detalhe para a inexistência do trecho de Itaporanga, na época. Esta imagem está em tamanho maior na seção de Mapas Antigos
1. É mais fácil ir a Europa do que a Sergipe
De acordo com o historiador André Luiz Sá de Jesus, desde 1872 inúmeras foram as tentativas de construção da estrada de ferro em Sergipe, ligando o nosso Estado, por esta via, aos Estados da Bahia e Alagoas. Do ponto de vista ferroviário, Sergipe já se encontrava entre duas ferrovias: a primeira ligava Recife ao São Francisco (Estrada de Ferro Recife ao São Francisco) e a segunda que ligava Bahia ao São Francisco (Estrada de Ferro Bahia ao São Francisco).
Esse ponto de intersecção, que isolava Sergipe de seus estados vizinhos era um forte obstáculo que precisava ser vencido pela classe política sergipana. Em discurso de 15 de setembro de 1903, o Deputado sergipano José Rodrigues da Costa Dória (1859-1938) externou sua preocupação, ao afirmar que apesar de Sergipe ter ligação com os Estados vizinhos pelo mar, estava isolado por linha de ferro: “(...)é mais fácil ir a Europa do que a Sergipe”.
2. O início da mudança
No mesmo ano, José Rodrigues da Costa Dória apresentou o projeto de lei nº 1126, que previa a construção da Estrada de Ferro Timbó a Propriá, ligando Sergipe à estrada de ferro baiana, desde a antiga povoação do Timbó (hoje, Esplanada, na Bahia) através da cidade de Propriá. O projeto contava ainda com uma ramificação: uma linha de ferro que ligaria a cidade de Aracaju a Simão Dias, passando por Laranjeiras.
Em 12 de novembro de 1908, com o Decreto nº 7171, a firma Austricliano de Carvalho & Cia. ficou autorizada a iniciar os trabalhos para a construção da ferrovia, o que teve início em 6 de maio de 1908 em Timbó e em 17 de junho em Aracaju.
Com o primeiro trecho concluído (do Timbó até Aracaju), em 26 de maio de 1913 foi feita a inauguração da ferrovia.
De acordo com André Luiz Sá de Jesus, o Jornal Diário da Manhã noticiava que a inauguração havia sido marcada para dois dias antes (24 de maio), mas que teve de ser adiada devido à fortes chuvas que aconteceram nesse dia.
Para a inauguração do trecho, uma comitiva baiana de 30 participantes composta por políticos, militares, jornalistas, a Banda de Música do 1º Corpo Policial da Bahia e o Corpo de Guardas Civis, percorreram as várias estações existentes entre os trechos, sendo recebidos pela população e políticos locais.
3. A Vez da Vila de Itaporanga
Em 1913, Itaporanga era uma Vila e pertencia à Comarca de Laranjeiras era administrada pelo Intendente Aurélio de Mello Rezende. De acordo com o Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, neste ano a estrada de ferro de Itaporanga se encontrava em “em construção adiantada, funcionando de Aracaju a Laranjeiras e ao Rio Fundo”. No ano seguinte, em 22 de março de 1914, a ferrovia, que desde um ano antes já era administrada pela Companhia Chemins de Fer du Lest Bresilien, foi inaugurada.
De acordo com André Luiz Sá de Jesus, a Estação de Itaporanga (embora) foi ponto de parada em uma viagem de teste antes da inauguração:
"Em fevereiro de 1913, ocorreu outra viagem antes da inauguração oficial da Estrada de Ferro Timbó a Propriá, realizada pelo Presidente do Estado de Sergipe, General Antônio José Siqueira de Menezes, à Cidade de Estância, na região sul do Estado de Sergipe. (...) Da Cidade de São Cristóvão, o trem seguiu viagem para a Vila de Itaporanga, onde a comitiva foi recebida com girândolas colocadas em frente à estação para comemorar a chegada dos viajantes. Na chegada, o presidente do Estado foi levado a analisar as condições para a construção de uma ponte sobre o Rio Vaza-barris pelo médico Aurélio de Melo Rezende." (JESUS, 2017, p. 73-74)
A população local e os políticos locais prestigiaram a inauguração, que não teve a pompa da primeira inauguração ocorrida para o primeiro trecho, mas que não deixou de ser importante.
Inicialmente, o nome da Estação era Itaporanga. Em 1944, já administrada pela Viação Férrea Federal Leste Brasileiro S/A, com a mudança do nome da cidade, o nome gravado no prédio da estação passou a ser Irapiranga. É curioso que em 1949, mesmo com a cidade tendo o nome mudado para Itaporanga D’Ajuda, o nome Irapiranga tenha permanecido. A partir de 1975, a ferrovia passou a ser administrada pela Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima até sua desativação, na década de 1990.