ARQUIVO HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE ITAPORANGA D'AJUDA - CURADORIA: PROFESSOR ROBSON MISTERSILVA
ARQUIVO HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE ITAPORANGA D'AJUDA - CURADORIA: PROFESSOR ROBSON MISTERSILVA
ENGENHO ITAPEROÁ
Década de 1950
Década de 1950
Década de 1970
Década de 1950
Anos 2000
lápide de José Severino de Souza Bastos (1895), localizada na Capela do Itaperoá
Pouco se sabe acerca da origem do Engenho Itaperoá. Em 1598 iniciam-se as doações de sesmarias para ocupação e povoação do Vaza-Barris (FREIRE, 2013). Dentre os diversos colonizadores da região, encontra-se na literatura de Freire (2013) cartas de doações cujas nomenclaturas fazem uso de termos como Itaperoá e Taperaguá (nomenclatura na qual o Engenho também era conhecido).
Situado ao lado do rio Vaza-Barris, tem-se uma configuração espacial que representa o quadrilátero (AZEVEDO, 1990) com pátio central, em que os edifícios eram dispostos em uma planície, que dista do rio aproximadamente 400 metros. Não se tem registros das atividades econômicas do antigo engenho e nem se conhece o tipo de fábrica em que era moída a cana-de-açúcar, sabe-se que o rio Vaza-Barris era utilizado para desaguar a produção açucareira e que próximo ao engenho e à cidade de Itaporanga D’Ajuda passava a linha férrea de trem.
Dos edifícios que compunham o engenho existem somente a torre da usina e a Igreja de N. Sra. de Nazaré, ambos em processo de arruinamento. As ruínas da Igreja e da torre distam entre si aproximadamente 2 km, distância esta bastante incomum para as tipologias de engenhos encontradas no Nordeste, tendo em vista que as mesmas se destacam pela relação de proximidade entre as edificações produtoras, sociais e residenciais. Os principais documentos sobre a Igreja de Nossa Senhora de Nazaré se perderam no processo de mudança da sede do Governo de Sergipe de São Cristóvão para Aracaju, em 1855, restando, somente, algumas informações sobre sua história, relatos pontuais coletados por historiadores ao longo do tempo. Ainda assim, Loureiro (1999) assegura que a edificação pertencia em 1819 ao senhor Leandro Ribeiro de Siqueira e Mello.
Com a morte do senhor Leandro, o engenho passa para o Sr. Silvio Anacleto de Souza Bastos, que era conhecido como empreendedor, ampliando os domínios do Engenho Itaperoá e anexando outras propriedades (processo público do IPHAN de nº470-T-52.) O Engenho Itaperoá foi então passado pelas mãos de familiares até que, em 1940, já conhecido como Usina Itaperoá, a edificação para de produzir açúcar (LOUREIRO, 1999).
Apesar de não receber mais as celebrações católicas foi percebido em visitas in loco que a sociedade ainda mantém uma relação de proximidade com a Igreja, comprovada por indícios encontrados de restos de velas e a solicitação dos usuários para restauro do bem edificado, sendo possível encontrar estes registros no processo público do IPHAN, de número 01504.001189/2014-53. Em conversas com arqueólogos do IPHAN-SE e com o zootecnólogo da Fazenda Itaperoá, tem-se que até poucos anos atrás existiam pequenas celebrações na edificação, e que a mesma se encontra sempre aberta a qualquer visitante. Segundo Luiz Fernando Ribeiro Soutelo, autor do processo de tombamento estadual da edificação em 1984, a Igreja, quando referenciada no mapa de Caespar Barloeus (mapa gerado no momento da invasão holandesa em Sergipe, em 1665) era apenas uma capela rural.
As primeiras movimentações em busca da proteção patrimonial da Igreja começam a surgir na década de 1950, com a solicitação para tombamento a nível federal em 1952, do arquiteto Paulo Thedim Barreto. Dentre os documentos antigos presentes no processo de tombamento 470-T-52 do IPHAN, estão cartas e ofícios de Rodrigo Melo Franco e de Carlos Drummond de Andrade, solicitando o conhecimento e endereço do proprietário da Igreja de N. Sra. de Nazaré “[...] para fins de tombamento”(ANDRADE, fl. 1 do processo do IPHAN 470-T-52).
Não obstante a paralisação do processo a nível federal iniciam-se, na década de 1970, encaminhamentos para o tombamento da edificação a nível estadual. Mais precisamente em 1975, o Conselheiro Luiz Fernando Ribeiro Soutelo já denuncia ao Conselho Estadual de Cultura a situação de abandono da edificação religiosa, tendo em vista que a mesma era considerada por alguns uma das edificações arquitetônicas mais significativas de Sergipe, segundo as indicações de nº /77, 05 de setembro de 1977, e nº 11/75 – 02 de junho de 1975, do Conselho Estadual de Cultura. Ainda em 1975 uma das alvenarias da edificação e parte do telhado ruiu, em 1977, o arquiteto José Wellington Costa realiza um relatório referente ao processo de nº 1.686/77, da SUDOPE, sobre o estado de conservação do bem. O arquiteto esclarece que a Capela é uma construção de meados do século XVII (1637-1640), podendo ser observadas em suas alvenarias características de adição referentes aos séculos XVIII e XIX, feitas ao gosto da época. Ainda em 1977 boa parte do telhado não existia mais, o retábulo do altar-mor já tinha se perdido, os forros e a pavimentação em lajota triangular de barro já estava em péssimo estado de conservação. Aproximadamente dez anos após os primeiros movimentos para proteção da Igreja de Nossa Senhora de Nazaré, tem-se em 06 de janeiro de 1984 o decreto de tombamento de nº 6.128, ficando a Igreja sob a proteção e vigilância do Poder Público Estadual.
Na década de 1999 é reaberto o processo de tombamento pelo IPHAN, sendo enviado para instrução do processo de nº 470-T-52 o levantamento de dados, realizado pela arquiteta Rosany Albuquerque de Matos. Apesar de todo o levantamento realizado, o tombamento foi considerado desfavorável em detrimento do estado de conservação da igreja, tendo em vista que uma restauração não seria possível devido a condição de arruinamento da edificação, expressando ainda que “[...] o imóvel [...] como ruína, não pode ser considerado como tendo excepcional valor[...]”. (Parecer 06/2006, de 18 de maio de 2006 do Departamento de Patrimônio Material/IPHAN).
Em 2014 foi aberto o processo do IPHAN de nº 01504.001189/2014-53 referente à Avaliação do Potencial Arqueológico da Igreja de N. Sra.de Nazaré, para atender a uma diligência da Procuradoria Geral do Estado. Foram realizadas vistorias, fiscalizações, gerados pareceres e notas técnicas acerca do estado de arruinamento do bem. O processo ainda se encontra em andamento para maiores providências, enquanto isso a edificação permanece a mercê do tempo, perdendo de pouco em pouco os elementos que configuram historicidade ao local e às alvenarias que conformam a Igreja de N. Sra. De Nazaré.
TEXTO: Melissa B. Goes e Eder D. Silva. IN: Documentação, conservação e restauração, registro patrimonial: A ruína de Nazaré do engenho Itaperoá Se/Br