ARQUIVO HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE ITAPORANGA D'AJUDA - CURADORIA: PROFESSOR ROBSON MISTERSILVA
ARQUIVO HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE ITAPORANGA D'AJUDA - CURADORIA: PROFESSOR ROBSON MISTERSILVA
ZULMIRA FREIRE REZENDE (1940 - ATUALIDADE)
Nasceu no dia seis de setembro de 1940, em Itaporanga/SE. Sua mãe, Zulmira Viana de Almeida, passou a administrar a fazenda após a morte do pai, Edmundo de Oliveira Freire. A médica Zulmira Rezende também foi da primeira turma da Faculdade de Medicina de Sergipe (1966). Assim que concluiu o ginasial, relatou que, abertas as inscrições do vestibular para medicina, resolveu se inscrever, sem a intervenção ou a influência da família. Para ela, era importante estudar e ter uma profissão:
"Eu tinha a ideia de que a mulher deveria ter sua profissão e não depender sócio economicamente do marido. Foi uma coincidência, porque terminei o ginasial quando abriu vestibular para medicina, aí me inscrevi. Eu não sonhava ser médica. Entre medicina e Direito, eu achei que eu estaria melhor em medicina, estava mais de acordo com a minha personalidade. Se não tivesse medicina iria fazer Direito. Não iria fazer medicina fora." (Zulmira Rezende, 2017).
Enquanto aluna de medicina, lecionou na cadeira de Biologia nos anos de 1962 e 1963, no Colégio Estadual Atheneu Sergipense e no Colégio Salvador, onde lecionou apenas um semestre. A médica nos relatou que não viajou para realizar a sua especialização médica, pois já estava casada e com filhos e que, naquela época, era difícil se deslocar para realizar os cursos de especialidades médicas; “um ou outro viajava”, afirmou. Zulmira fez prova para título de especialista para Endocrinologista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia. Fez a prova em um Congresso Nacional realizado em Maceió. No mesmo ano em que se formou, foi convidada para compor o quadro efetivo da FMS. Ao ser questionada acerca do motivo que a levou a consorciar o ofício de médica ao magistério, a endocrinologista nos esclareceu:
"Outra coisa que aconteceu por acaso, viu. Eu fui da primeira turma, éramos nove alunos; 2 perderam e ficamos em seis. Um dia o professor Raimundo Almeida, da Clínica Médica, foi a minha casa e me convidou para ensinar com ele. Não houve concurso, foi convite. A escola precisava de professor e convidaram os primeiros alunos, os melhores alunos. Éramos alunos com média de oito para cima. Chamaram os bons alunos da primeira turma para ensinar." (Zulmira Rezende, 2017).
Zulmira Rezende iniciou a sua carreira docente lecionando Farmacologia com o professor Raimundo Almeida. Depois passou para Clinica Médica e, quando houve a separação no currículo, ficou definitivamente na cadeira de Endocrinologia. Nesse mesmo período, passou a trabalhar em Posto de Saúde e, pouco tempo depois, montou o seu consultório particular. Quanto à escolha da Endocrinologia, a médica docente nos elucidou que:
"Não havia as especialidades separadas. Eu sempre gostei das coisas mais difíceis, de diagnósticos difíceis. No consultório chegavam casos com diagnósticos difíceis, muita coisa de endócrino, entendeu? Então eu comecei a estudar muito essa área. Também as aulas na Clínica Médica, de endócrino, era eu que dava. Inicialmente era o professor Júlio Flávio, mas ele faleceu. Com o passar do tempo, houve a especialidade separada e passei a ensinar, durante muitos anos sozinha, a Endocrinologia. Todas as aulas teóricas e práticas." (Zulmira Rezende, 2017).
A médica também atuou no Hospital de Cirurgia, no Hospital São José e no Hospital São Lucas. Assumiu função administrativa de Chefe de Serviço Local de Medicina, no INPS, durante seis anos; e do Serviço Local de Medicina Social, no INAMPS. No que se refere às produções científicas, Dra. Zulmira Rezende nos afirmou que possui o currículo cadastrado na plataforma Lattes e que participou de diversos Congressos, Encontro e Seminários, além de palestrar e ministrar mini cursos de extensão. Publicou artigo científico em Periódico, a exemplo do “Neuropatia Vegetativa em pacientes com Tolerância Diminuída à Glicose”, e diversos trabalhos em Anais de eventos, nacionais e internacionais, como: “Low HDL-col is not a classical feature of metabolic syndrome in children and adolescentes”, “Correlação entre o excesso de peso e a resistência insulínica em pacientes sem diabetes”, “Avaliação da Composição Corporal por Bioimpedância na Obesidade”, dentre outros. Relatou-nos ainda que assinou “[...] muitas revistas estrangeiras. Eu lia muito, revistas em francês e inglês. Os livros vinham dos Estados Unidos e eu traduzia para dar aula”. No quesito “avanço da medicina e o campo médico entre 1960 e 1980”, Dra. Zulmira Rezende nos esclarece que:
"Na década de 60 e 70 faltava muito laboratório, a parte de medicina nuclear não existia, ultrassonografia, dosagem hormonal, nada disso existia. Na medida em que os exames complementares foram aparecendo, as coisas ficaram mais fáceis. A estrutura de hospitais, o Cirurgia, por exemplo, não era ruim não. Trabalhei na UTI, casos graves e dificílimos, e nós resolvemos. Agora com a evolução dos meios diagnósticos, que ajudam muito. Metade da década de 70 as coisas já estavam melhorando. A endocrinologia mesmo sem laboratório era um caos." (Zulmira Rezende, 2017).
Dra. Zulmira Rezende se aposentou da UFS em 1995, mas continua clinicando em seu consultório particular na área da Endocrinologia.
FONTE: Silva, Patricia de Sousa Nunes. Médicos por formação, docentes em ação: o perfil profissional e a formação do campo médico em Sergipe (1966-1973). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão, 2018.
Turma de Medicina - Formandos de 1966: A partir da esquerda: Lídia, Rosa, William, Prof.Garcia Moreno, Antonio Cruz, Zulmira, Salviano e Simone.
Integraram a primeira turma: Antonio Leite Cruz, William, Salviano, Rosa, Simone, Zulmira e Lidia ( na ordem a partir da esquerda,Garcia, ao centro, paraninfo da primeira turma, na foto acima)